Quem foi o autor do gol do Mundial de 1951?

Análise Verdão
6 min readFeb 13, 2020

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No dia 22 de julho de 1951, o Palmeiras empatava por 2 a 2 com a Juventus-ITA, no Maracanã, sob os olhares de mais de 100 mil pessoas e se sagrava campeão da Copa Rio de 1951, o primeiro torneio intercontinental da história do futebol. À época, o título era considerado mundial e foi celebrado como tal. Milhões de pessoas foram as ruas celebrar a conquista, fossem elas palmeirenses ou não.

A capa da Gazeta Esportiva no dia seguinte a conquista. Foto: Acervo/Gazeta Press

O campeonato foi organizado pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos, a atual CBF) e obteve a chancela da FIFA. O intuito era contar com a participação dos campeões nacionais dos principais países do futebol. Por questões comerciais e de calendário, nem todos vieram ao Brasil, mesmo assim participaram grandes times do cenário mundial com títulos domésticos recém conquistados. A importância dada a competição era tanta, que o campeonato uruguaio foi paralisado para que o Nacional pudesse se preocupar exclusivamente com a disputa internacional.

Após uma preparação de um mês, o Palmeiras enfrentou Olympique de Nice-FRA, Estrela Vermelha-SER e Juventus na fase de grupos, Vasco na semifinal e reencontrou os italianos na decisão. A vitória alviverde por 1 a 0, com gol de Rodrigues, deu a vantagem do empate para o Palmeiras, contudo, a finalíssima do Maracanã foi tensa. A Velha Senhora vencia por 2 a 1, quando, aos 30 minutos do segundo tempo, o centroavante baixinho e trombador foi aos trancos e barrancos chegando perto da meta adversária até fazer um gol tão chorado quanto histórico. Mas quem é ele?

O time campeão do mundo em 1951. Foto: Arquivo Pessoal

Ele é Liminha, que tem esse apelido porque pensavam que ele fosse irmão de outro histórico atacante, o Lima, e ninguém melhor para contar sua história que seu filho, Oswaldo Luiz Moreira Júnior, o Seu Oswaldo. Com um grande conhecimento de Palmeiras, ele é categórico ao afirmar que sim, a Copa Rio é Mundial, até porque esse foi o tratamento dado por jogadores, imprensa e torcida durante o certame. No entanto, acredita que o clube não valoriza a conquista que veio pelos pés de seu pai como deveria, nem seus ídolos. “Desde a época dos Veteranos do Palmeiras (um time formado por jogadores históricos), o time se apresentava em várias cidades, mas nunca com um aparato clube. Desde essa época, com ele vivo, que o Palmeiras não se interessou por nenhum dos jogadores, nem pelo Jair Rosa Pinto”.

Os veteranos do Palmeiras. Em pé: o técnico e organizador Barriloti, Salvador, Savério, Mário Travaglini, Waldemar Fiúme, Tremembé. Agachados: Gustavo, Aquiles, Liminha, Jair Rosa Pinto e Lima. A criança segurando uma bola: Seu Oswaldo.

Se a falta de reconhecimento por parte do clube é um incomodo até hoje, já que sua família nunca foi chamada para conhecer o clube, o Allianz Parque e nem para homenagens, Seu Oswaldo tem o maior prazer em contar as memórias de Liminha. No início de carreira, no Ypiranga, nos anos 40, Oswaldo Luiz Moreira já demonstrava capacidade para jogar de ponta-direita e centroavante, mesmo com apenas 1.62 metro. As reclamações referentes a sua rebeldia e boemia se mostravam irrelevantes diante de suas atuações decisivas e principalmente do “excelente marido, ótimo pai e grande cozinheiro” que era, segundo seu filho.

Liminha no Ypiranga. Sempre no fim da fila, por conta da altura. Foto: Arquivo Pessoal

A veia para jogos grandes esteve presente desde o princípio de sua carreira. Uma das partidas que lhe deu mais visibilidade foi contra o Corinthians, em 1950, quando fez dois gols. No ano seguinte estrearia no Palmeiras anotando quatro tentos na goleada por 7 a 1 contra o Flamengo, no Torneio Rio-São Paulo. Também faria o gol do título mundial, o mais importante de sua carreira, um dos mais importantes da história alviverde e que devolveria a autoestima do futebol brasileiro, ferida pelo Maracanazzo. Liminha costumava dizer que “não via nada, só o gol” e assim o fez. Na marra, entrou com bola e comemorou se jogando no fundo das redes.

Liminha assinando com o Palmeiras. Foto: Arquivo Pessoal

A história dele do Palmeiras não se resume a esse gol. Ainda em 1951, foi campeão do Rio-São Paulo contra o Corinthians. O arquirrival, inclusive, é recorrente em sua carreira. “O Corinthians tinha um jogador chamado Cláudio e toda vez que se enfrentavam, meu pai e ele brigavam e eram expulsos”, conta Seu Oswaldo, em meio a risadas. O alvinegro tentou contratar o baixinho por algumas vezes. Quando ele estava para sair do Palmeiras, Jair Rosa Pinto impediu que o ídolo fosse para o maior rival, aconselhando-o a ir para a Portuguesa. Já no final da carreira, Liminha estava no Jabaquara e foi procurado novamente, mas não se sentia mais em condições físicas, então indicou que o ponta-direita Marcos, que ficaria um bom tempo no Parque São Jorge.

Depois do Palmeiras, Liminha (agachado, ao centro) jogou na Portuguesa. Foto: Arquivo Pessoal

No total, fez 229 jogos e 106 gols com o manto palestrino antes de se transferir para o Canindé, segundo dados do Almanaque do Palmeiras. Depois de seu período na Lusa, encerrou a carreira no Jabaquara. Já aposentado, trabalhou em diversas empresas, tendo em vista que na época os atletas de elite não ganhavam dinheiro atualmente. Seu Oswaldo relembra que “assim que ele saiu do Jabaquara, ele teve um convite para trabalhar na Volkswagem. Mas tinha uma coisa, para ele trabalhar lá tinha que jogar e treinar o time da empresa. Trabalhar mesmo, eu não sei se ele trabalhava”.

Uma coincidência marca a data do falecimento de Liminha: foi no dia 22 de julho de 1985, exatamente 34 anos depois da conquista do mundo. Em seu velório, Oberdan Cattani cobriu o caixão ex-companheiro com uma bandeira do Palmeiras. Apesar de a instituição não ter dado o devido valor para seu pai e para todo o elenco de 1951, Seu Oswaldo é palmeirense até hoje e só usou o nome do pai para entrar num jogo uma vez, quando foi com a esposa e os filhos pequenos no estádio: “Perguntei na bilheteria se precisava comprar ingresso para os meus filhos e disseram que não. Quando fui entrar no estádio o segurança falou que tinha que comprar ingresso e eu respondi: ‘Mas lá atrás me disseram que não precisava’ e minha mulher disse: ‘Fala que você é filho do Liminha!’ Ele nos deixou entrar na hora”.

A família, inclusive, é o que Seu Oswaldo mais valoriza. Além de adorar falar do pai, é casado há 38 com Rosely Zarella Moreira e pai orgulhoso do especialista na área financeira, Lucas Zarella Moreira, (36) e do educador físico, Alexandre Zarella Moreira (34). Também faz questão de ressaltar: “Sou avô de uma linda menina, Luíza, com sete meses de vida”.

Liminha (à esquerda) no primeiro aniversário de seu neto mais velho. O único que estaria presente. Foto: Arquivo Pessoal

Para 2020, Seu Oswaldo diz que tem esperança no “Palmeiras time, não no Palmeiras clube”. Durante o desenvolvimento dessa reportagem, em 31 de janeiro, o Twitter oficial do Palmeiras publicou uma mensagem em homenagem aos 90 anos de nascimento do 15° maior artilheiro de sua história. Será um indício de mudança de postura do ‘Palmeiras clube’?

Por Gabriel Assis

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